A conta vai chegar para todos: desafios e oportunidades da previdência no Brasil

Denise Maidanchen, CEO da Quanta Previdência, ressalta a importância de todos os âmbitos da sociedade pensarem no futuro

Em maio de 2024, participei do Seminário Internacional de Previdência, promovido pela ABRAPP em Madri, Espanha. Este evento proporcionou uma valiosa oportunidade de explorar o modelo europeu, seus desafios e melhores práticas, com o objetivo de ampliar a visão dos dirigentes de Entidades Fechadas de Previdência no Brasil e trazer ideias inovadoras para o setor. Das intensas discussões e análises, emergiu uma conclusão incontestável: ‘A conta vai chegar para todos’, Governos, empresas e trabalhadores, sejam formais ou autônomos, enfrentarão altos custos pelas decisões que tomamos hoje, caso não sejam implementadas medidas proativas e sustentáveis.

O envelhecimento da população brasileira, evidenciado pelo aumento da expectativa de vida de 62,6 anos em 1980 para 75,5 anos em 2022 (IBGE), pressiona os gastos com previdência social, que já representam 13% do PIB, segundo o IPEA. Projeções indicam que esse percentual pode chegar a 17% até 2060, exigindo uma gestão robusta para evitar o colapso do sistema, logo, ele precisará equilibrar essa questão através de novas reformas ou encargos, impactando diretamente empresas e trabalhadores. As consequências incluem:

  • Novas reformas previdenciárias: Aumento da idade mínima para aposentadoria, redução de benefícios e alterações nas regras de cálculo, gerando insatisfação popular.
  • Aumento de impostos: Maior carga tributária sobre empresas e trabalhadores, desincentivando investimentos e reduzindo o poder de compra.
  • Novos encargos trabalhistas: Empresas podem ter que contribuir mais para a previdência social, elevando custos operacionais e potencialmente aumentando o desemprego e a informalidade.
  • Pressão financeira nas empresas: Pequenas e médias empresas, em particular, podem enfrentar dificuldades, levando a falências e demissões.

Portanto, a participação ativa das empresas e dos trabalhadores na previdência complementar é crucial para evitar esses desdobramentos negativos e promover um futuro mais sustentável.

O Brasil possui reservas de previdência complementar que totalizam R$ 2,5 trilhões (ANBIMA), equivalentes a 25% do PIB. Em comparação, países como Estados Unidos e Reino Unido possuem reservas que ultrapassam 100% e 120% do PIB, respectivamente. Na Holanda, esse valor chega a 160% do PIB. O potencial de crescimento do mercado brasileiro é significativo, podendo aliviar a pressão sobre o sistema público e oferecer maior segurança aos aposentados.

A conta já chegou para o governo

Adotar medidas que incentivem o crescimento das reservas de previdência complementar é crucial. Isso não apenas ajuda a desonerar o sistema público de previdência, mas também contribui para a formação de uma poupança de longo prazo robusta, essencial para o desenvolvimento econômico sustentável do país. O governo pode atuar de maneira proativa, através de incentivos financeiros e tributários, como utilizados em países com alta cobertura previdenciária. Abaixo, alguns exemplos:

  • Aumento das deduções fiscais para contribuições previdenciárias feitas por empresas: Ampliar o limite atual de 20% dos gastos com folha para empresas de lucro real, abrangendo todos os tipos de empresas.
  • Isenção de tributação no resgate para contribuições de longo prazo: Reduzir a alíquota mínima de 10% para contribuições com 10 anos ou oferecer isenção total para resgates após um período ainda mais longo.
  • Aumento do Limite de Dedução Fiscal: Elevar o limite atual de 12% da renda bruta anual.
  • Incentivos para PME’s: Criar programas específicos para estimular a adesão de Pequenas e Médias Empresas à previdência complementar.

Se o governo investir em incentivos financeiros mais robustos para a previdência privada, poderá haver uma redução inicial na arrecadação de impostos. Contudo, a longo prazo, essa medida mitigaria despesas públicas ainda maiores. A verdadeira questão é que tal ação exige governantes comprometidos com a sustentabilidade intergeracional, em vez de líderes preocupados apenas com resultados imediatos. Quem terá a coragem de adotar essa postura necessária para evitar que, no futuro, a conta se torne insustentável?

O economista Peter Drucker já afirmava: “A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo.” Portanto, políticas previdenciárias proativas são essenciais.

A conta vai chegar para empresas

Para as empresas, a aposentadoria dos funcionários deve ser uma preocupação constante. Oferecer planos de previdência complementar não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também uma estratégia inteligente de negócios. Segundo a ANBIMA, apenas 12% dos brasileiros possuem algum plano de previdência privada, evidenciando a necessidade urgente de ação por parte das empresas.

Planos de previdência podem:

  • Aumentar a retenção de talentos: Reduzir o turnover e fidelizar funcionários talentosos, oferecendo um benefício atrativo e essencial para o planejamento financeiro futuro.
  • Melhorar o engajamento dos funcionários: Demonstrar o compromisso da empresa com o bem-estar dos colaboradores a longo prazo, motivando-os e aumentando a produtividade.
  • Fortalecer a imagem corporativa: Reforçar a reputação da empresa como um local de trabalho responsável e que se preocupa com seus funcionários.

À medida que o Brasil caminha para um futuro com uma população significativamente mais idosa, as empresas precisam se preparar para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que esse cenário trará. Em 2060, 25,5% da população terá mais de 65 anos. Isso representa 1 idoso para cada 4 pessoas em idade ativa (15-64 anos). Hoje a razão de dependência é de 1 para 10. Esse envelhecimento populacional apresenta uma realidade inescapável: esses indivíduos serão os futuros consumidores.

Sem planos de previdência robustos, muitos desses futuros consumidores poderão enfrentar sérias dificuldades financeiras. A ausência de renda adequada para a aposentadoria significa menor poder de compra, impactando diretamente a demanda por produtos e serviços. Países e empresas que hoje não investem na previdência complementar de seus funcionários podem enfrentar um mercado futuro com consumidores menos capazes de sustentar o crescimento econômico.

Quem pode pagar essa conta sozinho? VOCÊ!

A educação financeira é a chave para evitar a negligência em relação à previdência complementar. Segundo a OCDE, apenas 28% dos brasileiros possuem conhecimentos básicos de finanças. Este dado alarmante ressalta a importância de cada indivíduo assumir o controle do seu futuro financeiro.

Planejar o futuro é fundamental para garantir uma aposentadoria tranquila. Se governo e empresas falharem em atuar de maneira eficaz, a responsabilidade recai diretamente sobre você. Ignorar a necessidade de um planejamento previdenciário pode resultar em uma terceira idade marcada por dificuldades financeiras e perda de qualidade de vida. Ao investir em um plano de previdência complementar, você está não apenas assegurando uma renda para consumo vitalício, mas também garantindo a liberdade e o conforto que deseja na terceira idade.

Além disso, a previdência privada oferece benefícios fiscais imediatos que potencializam a acumulação de reservas de longo prazo. Cada contribuição é um passo a mais para uma aposentadoria segura e digna, longe de preocupações financeiras. Não espere que outras entidades resolvam essa questão por você; seja proativo e comece a planejar hoje.

Sua futura qualidade de vida depende das decisões que você toma agora. Não deixe para amanhã o que pode ser o alicerce de um futuro mais seguro e próspero. Afinal, quem mais será impactado pelas suas escolhas ou pela falta delas, é você mesmo.

A sustentabilidade da previdência é uma responsabilidade coletiva que não pode ser ignorada. Governos, empresas e indivíduos precisam agir agora para evitar uma crise previdenciária no futuro. O envelhecimento da população brasileira, combinado com a crescente pressão sobre os gastos públicos, exige uma abordagem proativa e integrada.

Governos devem implementar incentivos robustos para a previdência complementar, aliviando a carga do sistema público e promovendo uma economia sustentável. Empresas têm a responsabilidade de oferecer planos de previdência como uma estratégia de retenção de talentos e melhoria do engajamento dos funcionários. Indivíduos precisam buscar educação financeira e planejar ativamente sua aposentadoria, garantindo uma qualidade de vida adequada na terceira idade.

Como dizia Albert Einstein, “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.” A hora de agir é agora. Somente através de uma ação coordenada e comprometida poderemos garantir um futuro digno para todos, onde a previdência seja um alicerce sólido e sustentável para as próximas gerações.