Economia prateada vale ouro: Como este mercado está ditando novas tendências

A “prata” dos cabelos brancos tem ditado uma nova transformação no mercado mundial 

De todos os reflexos gerados pela longevidade – e são muitos -, talvez o mais veloz e mais impactante esteja no mercado de consumo da economia prateada. Se antes os produtos e serviços se voltavam especialmente à juventude e aos consumidores adultos em plena produtividade, hoje os movimentos e relacionamentos exigem um novo pensar e também um planejamento muito mais abrangente. Os olhos se voltaram para uma faixa etária que não quer mais ficar em casa esperando o tempo passar e decidiu assumir o protagonismo de suas vidas. Depois dos 60, 70, 80 anos ou mais. Acostumados a enfrentar transformações, os novos idosos querem ir ainda mais longe e exigem muito mais das marcas que desejam conquistar sua confiança e fidelidade.

Nesse novo mundo, a expressão economia prateada vale ouro e conquista cada vez mais espaço no vocabulário de todas as línguas. Também conhecida como a “silver economy”, constitui-se na soma das atividades do mercado voltado para as necessidades de pessoas com 50+, envolvendo tudo o que é consumido por este público na atualidade e o que virá a consumir no futuro.

Hoje, esse nicho representa quase R$ 2 trilhões em consumo anualmente no Brasil, e 15 trilhões de dólares no mundo. Ainda mais revelador do que os valores que circulam nessa faixa etária é o fato de que o consumo dessa população cresce 3 vezes mais rápido, em comparação com o público mais jovens.

E os números não param de impressionar. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2021, mostram que nos últimos 10 anos a parcela de pessoas com 60 anos ou mais saltou de 11,3% para 14,7% da população. Em números absolutos, esse grupo etário passou de 22,3 milhões para 31,2 milhões, crescendo 39,8% no período. Ao mesmo tempo, um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que pessoas com mais de 65 anos são 17% da fatia dos 5% mais ricos no país, e apenas 4% da grande fatia de 40% mais pobres.

Paralelamente à exatidão das estatísticas, outra certeza deve ficar no radar: os maduros estão por toda parte, nos teatros, cinemas, restaurantes, viagens de turismo, na frente do computador, no shopping, na academia, na ciclovia e na sala de aula, atrás de felicidade, prazer, conhecimento e qualidade de vida.

Portanto, eles também querem produtos que vão muito além dos destinados à manutenção da saúde (medicamentos e insumos médico-hospitalares), roupas adequadas e celulares com letras grandes. Eles ainda buscam novos espaços de lazer, entretenimento e no mercado de trabalho, distanciando-se cada vez mais da figura de bengala das vagas especiais no estacionamento.

Longe das inseguranças juvenis, eles sabem o que querem e têm horizontes cada vez mais amplos. Com a maturidade e a experiência adquiridas, dominam as estratégias necessárias para enfrentar desafios e não desistem tão facilmente diante dos obstáculos, que também são companheiros da jornada.

Todas essas informações são cruciais para conhecer o presente e prever o futuro, a curto, médio e longo prazo. Elas servem de bússola especialmente para empresas, entidades, investidores e profissionais da inovação que querem ampliar seus negócios e mesmo para a sustentabilidade de suas marcas. É preciso sempre avançar e acompanhar as ondas de um mar tão grande e diverso. Seguindo os próprios ensinamentos dos mais experientes, ficar parado não é uma opção     

Economia prateada: Das startups até as gigantes

A nova realidade já está promovendo mudanças no mundo das empresas de todos os portes, desde as jovens startups até as gigantes tradicionais, seja pelo tempo de atividade ou pela extensão de suas redes.

Muitas empresas emergentes vêm criando novas soluções para atender a economia prateada, com algum destaque para produtos voltados à saúde e prevenção de doenças, além de instrumentos para monitoramento e internet das coisas: objetos que transferem dados e se comunicam entre si, envolvendo dispositivos móveis, eletrodomésticos e até carros.

Ao mesmo tempo, marcas mundiais como Apple, Amazon, Oracle, PayPal e até o Facebook, por exemplo, estão cada vez mais próximas do mercado da longevidade, com pesquisas e promessas que devem surpreender ainda mais os negócios para os maduros.

Uma das maiores novidades, divulgada pelos meios de comunicação de todo o mundo, está nos investimentos anunciados pela família real da Arábia Saudita, com o lançamento da Fundação Hevolution, uma organização sem fins lucrativos que planeja gastar até US$ 1 bilhão para promover o avanço global da gerociência – área de estudo que investiga os mecanismos celulares e genéticos ligados ao envelhecimento.

Mais exigentes e em busca da satisfação

Os estudos sobre o novo cenário da economia também vêm crescendo na mesma proporção que a longevidade, em busca de respostas a muitas dúvidas que circundam a atual realidade. Destaca-se pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e pelo portal de educação financeira “Meu Bolso Feliz”, com pessoas acima de 60 anos, nas 27 capitais do país, que mapeou o perfil e o comportamento de consumo da população da terceira idade brasileira, destacando-se, entre os relevantes resultados:

  • Os maduros têm mudado suas prioridades de consumo com o passar do tempo e 41% deles afirmam gastar mais com produtos que desejam do que com itens relacionados a necessidades básicas da casa.
  • Aproveitar a vida é considerado, por 66%, como a grande prioridade. Nesse mesmo sentido, para 49% dos maduros ouvidos, ao chegar na terceira idade é indispensável aproveitar as oportunidades do consumo, e não mais poupar dinheiro.
  • Os principais fatores que determinam a compra pelos maduros são atendimento, conforto, localização e condições especiais de pagamento.
  • Embora representem um nicho promissor, o mercado brasileiro parece não estar preparado para atender às demandas desses consumidores. Pelo menos 45% dos entrevistados afirmaram enfrentar dificuldades para encontrar produtos destinados ao público da sua idade. Essa impressão é mais notada pelas mulheres (47%) e pelas pessoas entre 70 e 75 anos (51%).

A esses dados, soma-se um indicativo interessante da pesquisa “Hipermercados e Supermercados no Brasil”, conduzida pela Shopper Experience. Na percepção dos consumidores maduros, os estabelecimentos pecam no fator humano do atendimento. Entre as críticas, destacam-se: falta de interesse e entusiasmo na venda; falta de empatia e acolhimento ao cliente; falta de espaço para agregar valor humano ao momento da compra; funcionários aproveitam pouco os diferenciais das marcas; atendentes não olham para o cliente, não fazem um cumprimento e não sorriem.

A forma de fazer as comprar e de se relacionar com as marcas também mudou junto ao público dos maduros.  Entre as “certezas” que precisam ser modificadas está a ideia de que o consumidor prateado ainda faz suas compras apenas ou preferencialmente nas lojas com instalações físicas. Cada vez mais conectados, os consumidores dessa faixa etária invadiram definitivamente a internet e vêm despertando interesse de empresas com e-commerce em todo mundo.

O estudo da Tsunami8 Latam, conduzido pelo Data8, núcleo da Hype50+, em parceria com o Opinion Box e Pontes, entrevistou mais de 17 mil pessoas no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai. O resultado é de que dois terços dos consumidores latinos da geração prateada consumiram produtos vendidos pela internet no último ano.

Entre os produtos mais comprados em todos os países estão eletrônicos (38,4%), remédios e medicamentos (34,2%), alimentos e bebidas (33,7%), roupas e acessórios (33,2%), eletrodomésticos e utensílios para a casa (32,1%). No caso especial do Brasil, analisado na pesquisa, 95% dos usuários na faixa etária de 60+ possuem um smartphone e 31% conhecem novas marcas pelas redes sociais.

Por tudo isso, é inequívoco o crescimento da economia prateada, não apenas pelos números das pesquisas realizadas no Brasil e outros países, mas também pelo comportamento observado no próprio mercado, diretamente nos pontos de compra e venda, sejam eles em lojas físicas ou plataformas de produtos online.

O grande desafio agora é desenvolver uma comunicação assertiva com esse público, entendendo que a economia prateada veio para ficar e vai crescer cada vez mais. Essa parcela será dominante em breve e o país precisa se ajustar à nova realidade. Quem acordar antes para esse tema, vai se posicionar melhor e conquistar o poderoso consumidor maduro.